sábado, 31 de janeiro de 2015

O pelado



        A mulher se viu aflita. Bem na hora do almoço apareceu a parentada rica, e ela sem jeito e quietinha, solicitou ao seu esposo que corresse ao supermercado e lhe trouxesse carne moída para preparar o seu prato especial, o hit, para os hóspedes inesperados. O marido saiu numa pressa tão grande que esqueceu de colocar a calça. E na rua, todo mundo a via correndo e pensava que se tratava de um ladrão, um louco, um estuprador, e, não tardou e apareceu expressamente a sirene da polícia.
Ele adentrou o supermercado como um tsunami e não se deu conta da perseguição policial. Foi direto para o açougue, e ofegante gritou: “Quero dois quilos de carne moída, agora, urgente?!”. Mal ergueu a voz e os policiais lhe deram voz de prisão: “Levante as mãos, você está preso!”. Mas, de costas, nem imaginou que se tratava dele, e ouviu uma senhora idosa que estava na fila, logo atrás, lhe dizer: “Isso é uma vergonha! O cara vem do jeito que veio ao mundo ao Supermercado comprar carne! Ah meu Deus, que bunda mais feia e estrienta!”. Ele respondeu: “Nossa, esse cara além de sem-vergonha é horrível mesmo!”.
     Antes que fechasse a boca, um dos policiais lhe segurou por trás, puxou-lhe os braços e o algemou. Ele gritou: “Está me machucando! O que foi que eu fiz pra me tratar assim, como um animal?!”. O policial lhe disse: “Você está preso!”... Joaquim lhe disse, imediatamente: “Mas, que diabos de crime eu cometi?”. O policial, de supetão, pensou que estava diante de um louco, e lhe disse: “O Senhor por acaso tem problema mental?... Está sem calça, peladão!... E, ainda, me pergunta que crime cometeu? O senhor está bem encrencado... seu advogado vai ter um problemão!”.
     O pobre coitado, Joaquim, recobra a consciência, procura a sua calça, e nada... percebe que de fato está nu, e grita: “Aí meu Deus, tô frito!”. O policial, o baixinho, o conhecia de vista e, notou que se tratava de um senhor de boa índole e o levou logo à viatura. Até chegar à viatura, alguns curiosos lhe proferiram palavras de baixo calão... algumas senhoras e moças ao verem assim, peladão, fechavam um olho e deixavam o outro aberto... balançavam a cabeça e falavam baixinho: “Esse é um canalha, devasso mesmo!”.
     Notícia ruim chega a galope! Sua esposa, apavorada, fez de tudo para que sua parentela não ouvisse os cochichos e os boatos que vinham da boca da rua. Tratou de dar um jeito, e escapou pelas portas dos fundos e foi à delegacia. Ao chegar lá, disse ao delegado o ocorrido... e o homem da lei comovido com a sua história, disse-lhe: “Dona Justina, vou soltá-lo, mas, vou lá à sua casa comer o seu hit que é muito famoso por aqui também... Pode ser?”.  Ela balançou a cabeça positivamente...  Tinha levado uma calça para o marido. Viu-o morto de vergonha, e lhe disse: “Calma homem, lá em casa ninguém sabe nada, vamos logo!... Vamos passar no açougue do Branco, que, a panela está no fogo no ponto do hit e, agora, tenho que aumentar o feijão porque o delegado vai almoçar lá também”.
     Apesar de todo esse embaraço, a esposa rindo, disse ao marido: “Você acabou com a minha raça... Eu sempre bati o maior papo lá no salão da Beth... Agora, tô frita!”. Joaquim entendeu bem o que ela quis lhe dizer, e respondeu: “Larga de ser besta mulher! Nem tudo o que é grande é bom, mas tudo o que é bom é grande...”.

Professor Osmar Fernandes
Em 30/05/2010
Código do texto: T2288858
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