sábado, 31 de janeiro de 2015

O profligador de almas


O homem de guarda-pó branco era um verdadeiro general da supremacia do mal, era mão-de-finado, mesmo. De sua boca severa saíam palavras de honorabilidade... Mas, mantinha dupla personalidade. Para ele, todo aluno era facilmente induzido a correr risco na vida. Era identificado pela sua rinotriquia. Era prolixo em suas explicações. Não gostava da modernidade, era retrógrado; exibia a santa-luzia para intimidar seus discentes. Deixava-os aluídos e apoplécticos.  Esse professor de Educação Moral e Cívica (EMC) era mesmo um profligador de almas. De moral, só o diploma.
Em sua casa, o renitente era odiado até mesmo pela sua cadela de estimação, a Justa, que já não o suportava mais. Ele “tinha ataques de loucuras” e urrava tanto que assustava a cachorra – piripaques de maluco. De vez em quando ela o confundia com um lobo e o atacava.
Somente, e tão somente, o seu títere – o Zé Cadela – o admirava. No entanto sua paciência já estava se esgotando. Estava de saco cheio, também, com os berros estapafúrdios que o chefe lhe emitia. Certa vez, sem pensar nas conseqüências, o Zé mandou seu Rinotriquia para os quintos dos infernos.  Não foi despedido, por motivos domésticos, mas teve que engraxar e lustrar todos os sapatos, botas e os cintos de couro do seu trêfego patrão, até que pudesse pentear o seu cabelo pelo brilho do lustro.
Dona Miúda, a lerda zaroia – secretária da escola – era cegamente apaixonada pelo excêntrico insuportável. Ele a manipulava com desfaçatez. Toda a sua ordem ela cumpria à risca. Ela fazia trabalhos escolares, dava presença e notas para as alunas que faziam parte do harém e do fã clube sexuais do mestre Rinotriquia.Toda aquela que lhe servisse aos desejos carnais animalescos tinha moral, dinheiro, nota, e, é lógico, jamais reprovava em sua disciplina. Ele tinha um time de causar inveja a muito sultão.
Logo, certo dia, o seu reinado maquiavélico começou a ruir-se quando a aluna Xixixi colocou a boca no mundo. O Conselho Escolar resolveu abrir uma sindicância sigilosa contra o seu professor mais respeitado daquela Escola.
Numa segunda-feira, na hora do intervalo, no corredor, indignada com a lentidão da investigação, Xixixi – apelidada assim por ser gaga – resolveu fazer um barulho tremendo. Iniciou um comício, que chamou a atenção de todo mundo, e disparou impropérios contra o seu Rinotriquia, que até os semideuses duvidavam. Taxou-o de tarado pervertido... Malandro... Sem-vergonha, etc. Mesmo tendo certa dificuldade de pronunciar seu discurso, devido a sua gagueira, era perfeitamente compreendida. As colegas, com medo de que ela podia “dar nomes aos bois” , e comprometer algumas tietes do mestre – o aliciador de menores – empurraram a Expedita, para que ela intercedesse e tomasse as dores em defesa do dito cujo safado. Ela, de imediato, disse:
- Basta! Suas acusações são sérias demais. Se não tiver provas do que está falando, vai ser expulsa do colégio por difamação, calúnias e falso testemunho. Será, indubitavelmente, processada.
Xixixi, irada, em alta e boa gagueira, disse “claramente”:
- Eu tenho uma (fofofototogragrafifia suuaa nununua) com ele.
Nesse momento, a galera ali presente gritava num só coro:
- Chi!... Agora fedeu!!! Meu!!! Caracas!!! Estrepou-se feio!!!
Sem pestanejar, a aluna Xixixi, tirou de sua bolsa um monte de fotos e fez confete delas... Dentre as fotos, uma comprometia a vida de uma conceituadíssima professora...  Foi um deus nos acuda! A baderna estava no ar... Várias vezes o sinal foi acionado, ninguém o atendia... Os alunos eufóricos, disputavam, brigavam por cada fotografia, como se fosse um troféu, um tesouro.
Dona Miúda estava enlouquecida na porta da secretaria assistindo a tudo, e dizia: - Que horror! Agora o bicho vai pegar! To frita também!
A foto que comprometia a professora caiu nas mãos de um aluno – apelidado de três pernas – que era doido por ela. Bagaço – para os invejosos – viu em suas mãos a oportunidade que pedia aos deuses do Olimpo. Ele não perdeu tempo e foi logo procurá-la, e, em segredo, disparou, dizendo:
- A senhora, moralista na escola e vadiando nas horas vagas, quem diria?
E, antes que ele prosseguisse, Celi, a desejada por todo aluno, por ser uma linda mulher – de bumbum empinado, com um belo par de seios volumosos e um corpo esguio de causar inveja a qualquer garota de quinze anos, apavorada, gritou:
- Você ta doido, moleque! Que falta de respeito! Olha lá o que está falando! Sua acusação é muito séria. Sei que já tem idade para ser processado. Vê lá! Você está me confundindo com alguém de sua laia, não é?
O aluno metralhou a professora, dizendo:
- É bom baixar o tom de sua voz! Tenho aqui, em mãos, uma foto sua do jeitinho que veio ao mundo, com alguém na cama, e não é o seu marido.  Vai ser a foto de capa, a manchete do nosso jornalzinho.  Você sabe que sou o editor chefe do jornalzinho dos estudantes. Tudo bem! Se você vai mesmo me processar, vá em frente. Se essa que aqui está, não é você, não há o que temer.
O aluno ensaiou sair, quando ela o puxou pela camisa e disse:
- Calma, me desculpe! Estou nervosa. Vamos conversar como dois seres inteligentes e civilizados.
Ele, surpreso, respondeu:
- Olha, não tem meia conversa, meu acordo é ficar com você, tê-la como mulher.  Sou fissurado por isso.  Em troca vai ter a foto e o meu “bico calado.”
A professora, sem ter outra alternativa, resolveu ceder às exigências do seu aluno menos favorito, entrou no veículo do Bagaço, agachou-se de modo que ninguém a visse ou a reconhecesse. Era noitinha.  Adentraram o motel mais requintado da redondeza. Foram para o quarto de número treze, famoso por ter a cadeira erótica... Ele, que nunca havia entrado num lugar tão finíssimo, ficou fascinado. Todo aquele aconchego e aquele “avião...” Pensou que estava sonhando. Afoito, partiu como um animal pra cima da professorinha e ela lhe falou serenamente:
- Calma, não vá com tanta “sede ao pote”, temos tempo para matar o desejo.
A professora, educadamente, saiu e foi tomar uma ducha. Ao começar a se despir, Bagaço, vendo todo aquele monumento, ficou em ponto de bala.  Ela, notando a situação dele, convidou-o para o banho também.  Ao descobrir a fama do aluno, apaixonou-se à primeira pegada. Entendeu o porquê do seu apelido...  A respeitada professora – a dama da escola...  A dona de casa, a bem casada – ali, entre quatro paredes, transformou-se numa outra mulher – numa fiel amante do sexo. Passou a ensinar o beabá do prazer para o seu aluno, agora favorito.  Ela ficou doida, nunca tinha tido nada igual antes. O cara era feio, mas...
Desejo saciado, acordo cumprido, naquele dia cada um seguiu o seu destino. Outros encontros rolaram... Passaram a ser amantes fiéis.
O Conselho da Escola, de posse de algumas fotos obscenas, envolvendo o professor e algumas alunas, resolveu instaurar um inquérito administrativo. Audiência marcada, envolvidos convocados, deu-se início ao interrogatório, com acareação.
O presidente do Conselho – professor Soinho – expondo as fotos, perguntou ao professor Rinotriquia:
- O que significa isso, professor? Queira por gentileza explicar-me?
E disse mais:
- Estou perplexo diante de tanta vulgaridade em que o senhor se envolveu. O Conselho Escolar o achava um mestre de comportamento ilibado... O senhor era um exemplo... Mas, a casa caiu.
As provas eram irrefutáveis.  O safado não tinha como se defender, e passou a usar de uma tática suja: resolveu acusar as alunas, dizendo que elas o envolveram e o enganaram, e estavam usando aquelas fotos para obrigá-lo a aprová-las de ano em sua matéria.
Nesse momento, a aluna Expedita foi à loucura e encolerizada disse:
- Canalha! Estuprador! Velho sem-vergonha! Além de nos assediar, nos levava para a cama, e nos prostituía, agora quer dizer que a culpa é nossa? Vagabundo!!! Ele nos chantageou... Ou cedíamos aos seus prazeres nojentos e horrendos ou nos reprovava de ano... Por isso, todas nós cedemos a esse canalha.
A aluna Perpétua foi mais além, e disse chorando:
- Hoje estou concluindo o segundo ano do ensino médio, mas desde a sétima série esse monstro se aproveita de mim. Assediou-me, extorquiu e bobinha que era, caí nas lábias dele, na conversa mole desse crápula, desse malandro...  No começo foi só assédio, depois foi às vias de fato mesmo. Tem foto minha fazendo sexo de todo jeito sendo vendida na internet. Pelo amor de Deus! Esse monstro tem que pagar pelos seus crimes, e sua secretária Zaroia também, por ser sua conivente, era ela que escolhia as meninas a dedo para ele.
O Conselho Escolar, imediatamente, tomou todas as providências cabíveis contra o professor e a D. Miúda e os expulsou do colégio por justa causa.
O caso ganhou repercussão e o malandro foi parar atrás das grades... Dentro do xilindró, os presos, sabendo o que ele tinha feito com as meninas inocentes, estupram-no... Não aguentando tanta humilhação, o malandro deu cabo à própria vida, enforcando-se numa corda feita de lençol com as próprias mãos.
Professor Osmar Fernandes
Enviado por Professor Osmar Fernandes em 05/08/2009
Reeditado em 05/08/2009
Código do texto: T1737312

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Um comentário:

  1. A respeitada professora – a dama da escola... A dona de casa, a bem casada – ali, entre quatro paredes, transformou-se numa outra mulher – numa fiel amante do sexo. Passou a ensinar o beabá do prazer para o seu aluno, agora favorito.

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